quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Em "Skyfall", 007 de Daniel Craig consegue pela 1ª vez despertar simpatia no público


Durante décadas, os filmes de James Bond se escoraram em uma fórmula infalível. Em alguns, predominava o humor – em outros, a ação ou a fantasia. Porém, apesar de ligeiras variações, a série “007” era um gênero em si. Mas em 2006 os produtores da franquia optaram por deixar de fazer “filmes de 007” e passar a fazer “filmes de ação” (mesmo que protagonizados por um indivíduo identificado como “007”). Subitamente, Bond deixou de ser sofisticado, inteligente, irônico e mulherengo. Com seu jeitão lacônico, Daniel Craig fez sua parte para humanizar 007, mas logo se descobriu que reduzir um personagem tão bacana a um mero agente de campo não era a melhor forma de se reinventar a roda.

Entra em cena, então, “007 – Operação Skyfall”, que redime as intenções originais dos produtores. A aventura reúne o melhor de dois mundos: não abdica do dinamismo e da testosterona dos últimos filmes de Bond, mas promove o bem-vindo resgate de algumas características essenciais de 007 que andavam esquecidas. Pela primeira vez, o James Bond de Daniel Craig desperta simpatia no público. E, como se verá, adicionar carisma e sagacidade àquela “persona” implacável que Craig construiu em “Cassino Royale” em nada depõe contra a modernização do mito. Ao contrário: agrega valor a esta leitura contemporânea do herói e mostra que, talvez, o ator estivesse sendo subaproveitado, uma vez que consegue imprimir maior latitude ao personagem quando o roteiro o exige.
É claro que, pela atual fase da franquia ser comprometida com o realismo (e porque não seria inteligente subverter a regra a essas alturas do campeonato), não foi possível alçar vôos igualmente surpreendentes no que se refere à trama. Este 007 continua a enfrentar vilões de carne e osso – ninguém o verá combater um gigante com dentes de aço ou um chefão do crime que eletrocuta subalternos com uma mão e acaricia um gato angorá com a outra.

O vilão da vez é o tecno-terrorista Raoul Silva (Javier Bardem, ótimo), que articula uma conspiração contra o MI6 e, particularmente, contra a maternal chefe de Bond, M (Judi Dench). No entanto, à sua maneira, Silva é mais uma daquelas criações memoráveis que só a série Bond consegue entregar: tão cedo, ninguém esquecerá o tipo esquisito e andrógino que põe em cheque a inteligência britânica e que instaura o caos em Londres, com uma displicência digna do sombrio Coringa de “O Cavaleiro das Trevas”.
O que mais? Se o mocinho e o vilão não forem suficientes para justificar o preço do ingresso, o espectador (assim como os fãs inveterados do herói) ainda se deliciará com a fotografia inspirada, a boa trilha sonora (capitaneada pelo tema musical de Adele, outro acerto), as coreografias de ação de cair o queixo e um irresistível rasante na mitologia original do personagem (extraída dos livros de Ian Fleming, que se mantém inesgotáveis fontes de inspiração para os realizadores) – quando “Skyfall” nos leva à Escócia e nos apresenta as origens de James Bond.

O filme poderia ser melhor? Talvez (o “Q” adolescente tem lá seu apelo, mas não deixa de ser uma das mais pueris inovações propostas pela série; e as Bond Girls são tão esquecíveis quanto as de “Quantum of Solace”). Mas não é todo dia que uma superprodução destinada ao grande público (e inexoravelmente presa a um passado de glórias, que projeta uma sombra imensa) obtém tamanho equilíbrio entre inovação e tradição. Novamente, James Bond tem um jogo e tanto nas mãos.

Fonte: UOL
Por Eduardo Torelli 

Curta abaixo o trailer do filme com a canção tema "Skyfall" de Adele, mais um lançamento em nossa programação:

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