Choradeira, gritos, mãos levantadas, coro constante. O primeiro show da neozelandesa Lorde em um palco brasileiro foi marcado por uma recepção digna de uma estrela pop com anos de estrada e currículo extenso. Não foi o caso desta estrela em questão: aos 17 anos e com um único álbum lançado há pouco mais de seis meses, Lorde é provavelmente a artista mais jovem a se apresentar na terceira edição do festival Lollapalooza Brasil.
Esteticamente, Lorde pouco lembrou a figura soturna que causou estranheza e fascinação em aparições televisivas ao longo de 2013, ano em que saiu do meio do nada (mais precisamente a Oceania) para conquistar o contexto pop com um hit onipresente – “Royals” – e um disco bem-produzido e eficiente, Pure Heroine. Sob o clima abafado paulistano (apesar das nuvens cinzentas que insistiram em cobrir a área do palco), ela deixou de lado os tecidos escuros e pesados de praxe e optou por calças brancas de cintura alta, um top preto e sandálias plataforma. Notavelmente, estava de braços e barriga à mostra.
A cativada e numerosa plateia que lotou o palco Interlagos era formada em maioria por adolescentes, meninos e meninas com a idade bem próxima a de Lorde. Era evidente a fascinação geral pelo estilo inusitado da cantora, baseado em raps em tom grave, danças esquisitas e maneirismos desajeitados. “Oi, Brasil. É um prazer conhecer vocês!”, ela exclamou no primeiro de vários momentos em que se mostrou surpresa pela devoção com que era recebida. E Lorde pouco precisou fazer para causar tal comoção. A timidez latente a impediu de parecer exageradamente tocada, mas a emoção soava genuína. Poupando o público de mensagens motivacionais típicas de musas pop, ela preferiu exaltar “a loucura de estar aqui com vocês escutando as minhas palavras”. A identificação com o público foi natural, uma vez que Lorde não poderia ser mais parecida com o público-padrão que a segue. É uma artista ainda em desenvolvimento que, em dados momentos – e na aparência – entrega a idade que afirma ter, mas que exala um talento bruto e maduro que parece longe de chegar ao ápice.
A sonoridade de Lorde é pesada, apesar de econômica: no palco, ela estava acompanhada apenas do baterista Ben Barter e do tecladista Jimmy Mac. Algumas das camadas dos arranjos eletrônicos eram pré-gravadas, inclusive os coros, mas não fez lá muita diferença, já que a intenção era soar fiel ao conteúdo pouco diversificado de Pure Heroine. No centro das atenções, Lorde, que se chama Ella Yelich-O’Connor, deu a entender que não conseguiria ficar parada por mais que quisesse. Para esconder a timidez durante os interlúdios, explorou as coreografias espasmódicas a exaustão (“Isso aí é obra de satanás”, brincou um fã, ao presenciar os maneirismos). Ela também custou a encarar o público. Quando o fez, foi com um sorriso de canto, meio que custando a crer que experimentava tal protagonismo em um palco tão distante de casa.
“É tão maluco pra mim estar aqui”, ela sussurrou, visivelmente emocionada. “Nós somos da Nova Zelândia. As pessoas de lá não costumam sair muito do país. Somos tão felizes de que vocês pagaram para nos ver aqui.”
No hit “Royals” em versão levemente modificada, o público cantou quase tão alto quanto a dona do show. Pura ironia: Lorde cantou o refrão grudento – “We will never be royals” – exatamente na hora em que levantou no ar uma bandeira verde-amarela, e talvez poucos tenham compreendido a metáfora contida na cena. Ao cantar o verso final – “Let me live that fantasy” - também foi possível interpretar o momento como uma divagação pública da cantora sobre a fulminante trajetória que tem experimentado. Lorde hoje vive na pele a lúdica fantasia de ser uma estrela pop. E está claro que tudo o que ela deseja é jamais despertar desse sonho.
Esteticamente, Lorde pouco lembrou a figura soturna que causou estranheza e fascinação em aparições televisivas ao longo de 2013, ano em que saiu do meio do nada (mais precisamente a Oceania) para conquistar o contexto pop com um hit onipresente – “Royals” – e um disco bem-produzido e eficiente, Pure Heroine. Sob o clima abafado paulistano (apesar das nuvens cinzentas que insistiram em cobrir a área do palco), ela deixou de lado os tecidos escuros e pesados de praxe e optou por calças brancas de cintura alta, um top preto e sandálias plataforma. Notavelmente, estava de braços e barriga à mostra.
A cativada e numerosa plateia que lotou o palco Interlagos era formada em maioria por adolescentes, meninos e meninas com a idade bem próxima a de Lorde. Era evidente a fascinação geral pelo estilo inusitado da cantora, baseado em raps em tom grave, danças esquisitas e maneirismos desajeitados. “Oi, Brasil. É um prazer conhecer vocês!”, ela exclamou no primeiro de vários momentos em que se mostrou surpresa pela devoção com que era recebida. E Lorde pouco precisou fazer para causar tal comoção. A timidez latente a impediu de parecer exageradamente tocada, mas a emoção soava genuína. Poupando o público de mensagens motivacionais típicas de musas pop, ela preferiu exaltar “a loucura de estar aqui com vocês escutando as minhas palavras”. A identificação com o público foi natural, uma vez que Lorde não poderia ser mais parecida com o público-padrão que a segue. É uma artista ainda em desenvolvimento que, em dados momentos – e na aparência – entrega a idade que afirma ter, mas que exala um talento bruto e maduro que parece longe de chegar ao ápice.
A sonoridade de Lorde é pesada, apesar de econômica: no palco, ela estava acompanhada apenas do baterista Ben Barter e do tecladista Jimmy Mac. Algumas das camadas dos arranjos eletrônicos eram pré-gravadas, inclusive os coros, mas não fez lá muita diferença, já que a intenção era soar fiel ao conteúdo pouco diversificado de Pure Heroine. No centro das atenções, Lorde, que se chama Ella Yelich-O’Connor, deu a entender que não conseguiria ficar parada por mais que quisesse. Para esconder a timidez durante os interlúdios, explorou as coreografias espasmódicas a exaustão (“Isso aí é obra de satanás”, brincou um fã, ao presenciar os maneirismos). Ela também custou a encarar o público. Quando o fez, foi com um sorriso de canto, meio que custando a crer que experimentava tal protagonismo em um palco tão distante de casa.
“É tão maluco pra mim estar aqui”, ela sussurrou, visivelmente emocionada. “Nós somos da Nova Zelândia. As pessoas de lá não costumam sair muito do país. Somos tão felizes de que vocês pagaram para nos ver aqui.”
No hit “Royals” em versão levemente modificada, o público cantou quase tão alto quanto a dona do show. Pura ironia: Lorde cantou o refrão grudento – “We will never be royals” – exatamente na hora em que levantou no ar uma bandeira verde-amarela, e talvez poucos tenham compreendido a metáfora contida na cena. Ao cantar o verso final – “Let me live that fantasy” - também foi possível interpretar o momento como uma divagação pública da cantora sobre a fulminante trajetória que tem experimentado. Lorde hoje vive na pele a lúdica fantasia de ser uma estrela pop. E está claro que tudo o que ela deseja é jamais despertar desse sonho.
por Pablo Miyazawa
Fonte: Rolling Stone
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